quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre coerência e coesão

Beaugrande e Dressler apresentam coerência e coesão como níveis distintos de análise. A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais numa sequência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos elementos textuais. A falta de coerência em um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de imediato a coerência de um discurso.
Beaugrande e Dressler (1981) argumentam que uma ciência de textos deve
ser capaz de descrever ou explicar características comuns e distintivas entre textos.
Texto, para esses autores, é uma ocorrência comunicativa que preenche sete critérios da textualidade: coerência, coesão - centrados no texto , intencionalidade, aceitabilidade,situacionalidade, infomatividade e intertextualidade - centrados no usuário.
Entre esses critérios responsáveis pela textualidade, encontra-se a
coesão. Sehundo Koch (2000), a coesão é divida em duas grandes modalidades: a
remissão e a seqüênciaçao. A coesão por remissão pode desempenhar a função de
(re)ativação de referentes e de sinalização textual. A reativação de referentes no texto é
realizado através de referenciação anafórica ou catafórica, formando-se, deste modo,
cadeias coesivas mais ou menos longas.
Halliday e Hasan (1976) propõem a distinção dos mecanismos coesivos em cinco categorias, divididas de acordo com o modo como os itens lexicais e gramaticais relacionam-se com o texto e no texto: referência,Substituição, elipse, conjunção e coesão lexical. Marcushi (1983) propõe quatro factores: repetidores, substituidores, sequenciadores e moduladores; Fávero (1995) propõe três tipos: referencial, recorrencial e sequencial.

Ex:Substituição : quando uma palavra ou expressão substitui outras anteriores:

- Ana foi ao cinema. Ela não gostou do filme.

Repetidores: quando se repetem formas no texto

A casinha ficava no meio da floresta,no casebre de chão batido viveram a vida inteira.


Referencias de pesquisa:

http://www.giseldacosta.com.br/public/2184327-Texto-e-coesao-textual.pdf
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/C/coerencia_coesao.htm

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lingüística textual

Ana christina bentes

Um breve percurso histórico
O termo lingüística textual foi empregado pela primeira vez por haral weinrich. No entanto depois de muito esforço teóricos, com perspectivas e métodos diferentes de um novo campo, procurando ir alem dos limites da frase para compreender a língua como sistema e como código, com funções puramente informativas surgiu nos anos 60 a “lingüística do discurso”.
Discutida numa conferências intitulada por Luiz Antônio Marcuschi (1998) sobre os rumos atuais da lingüística textual, e então postular como analise do discurso. Nesse analise não houve um desenvolvimento homogêneo, que segundo Marcuschi (1998) seu surgimento deu-se de maneira independente.
Após um certo tempo distingue três momentos que após abordados dão meio a uma era de afastamento da influencia teórico- metodológico da lingüística estrutural saussureana. Esses três momentos se dividem em:análise transfástica , que seria para fenômenos que não podiam ser explicados pelas teorias sintáticas ou pelas teorias semânticas que ficassem limitadas ao nível da frase. Contrução de gramáticas textuais que postulou-se quando foi provocada a euforia do sucesso da gramática gerativa que incluía a descrição da competência textual do falante. E por ultimo a teoria de texto que busca estudar o texto dentro de seu contexto de produção e a ser compreendido não como um produto acabado, mais como um processo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

LINGUÍSTICA TEXTUAL E SEUS AVANÇOS

UM PROCESSO

Segundo Fávero e Kock, a Lingüística Textual constitui um novo ramo da Linguítica que começou a desenvolver-se na década de 60, na Europa, e de modo especial, na Alemanha. Sua hipótese de trabalho consiste em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os testos a forma específica de manifestação da linguagem. Nessa perspectiva a Lingüística Textual ultrapassa os limites da frase e entende a linguagem como interação. Assim, justifica-se a necessidade de descrever e explicar a língua dentro de um contexto, considerando suas condições de uso.
Para tanto, a Lingüística Textual emergiu a partir da Teoria da Enunciação e da teoria dos Atos de Fala. Tendo como precursor da Teoria de Enunciação Mikhail Bakhtin, ao postular a subjetividade da linguagem e considerar a fala como unidade real da língua; e os Atos de Fala foram destacados por Austin e Searle, ao entenderem a linguagem como ação. Austin acreditava que dizer alguma coisa é fazer alguma coisa. Este fazer é um ato de linguagem ou um ato de fala, e nessa perspectiva ele postulou três tipos de atos de fala: o ato locutório, o ilocutório e o perlucutório.
De acordo com Bentes, na história da constituição da Lingüística textual não se pode ter com precisão uma sequência cronológica e homogênea no desenvolvimento das teorias da lingüística de texto, porem, pode-se definir três momentos teóricos e bastante diferentes entre si.
A Lingüística Textual apresenta como primeiro momento à análise transfrástica, que tem como escopo descrever os fenômenos sintático-semânticos, ou seja, estudar relações ocorrentes entre enunciados ou seqüências de enunciados. A análise transfrástica ainda não considerava o texto como objeto de análise, ou seja, os estudos partiam da frase para o texto.
Em um segundo momento, emergi a gramática de texto. Segundo Fávero e Koch, havia algumas causas pertinentes ao surgimento ao referido momento, tais quais: as lacunas das gramáticas de frase no tratamento de fenômenos tais como a corenferência, a pronominalização, a seleção dos artigos (definido e indefinido), a ordem das palavras no enunciado, à relação tópico-comentário, a entoação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, à concordância dos tempos verbais e vários outros que só podem ser devidamente explicados em termos de texto ou, então, com referência a um contexto situacional.
Dressler apud Fávero e Koch mensiona que, nas gramáticas de frase, ficam excluídas vastas partes da morfologia, da fonologia e da lexicologia. Já a lingüística textual comporta diversas manifestações: cabe à semântica do texto explicitar o que se deve entender por significação de um texto e como ela se constitui. É tarefa da pragmática do texto dizer qual é a função de um texto no contexto. A sintaxe do texto tem por encargo verificar como vem expressa sintaticamente a significação de um texto e como pode expressar o que está à sua volta. Estreitamente correlacionada à sintaxe do texto, está à fonética do texto, que, de modo análogo à fonética da frase, ocupa-se das características e dos sinais fonéticos da configuração sintática textual.
Nesse sentido, segundo Lang (1972, apud Fávero e koch), o texto constitui um todo que é diferente da soma das partes. Sendo assim, a partir da descrição de fenômenos lingüísticos inexplicáveis pelas gramáticas de frase, já que um texto não é apenas uma seqüência de frases isoladas, mas uma unidade lingüística com propriedades específicas. Desse modo, pode-se considerar que todo falante nativo possui um conhecimento do que seja um texto, bem como reconhece quando um conjunto de enunciados constitui um texto ou quando se constitui apenas em um conjunto aleatório de palavras ou sentenças. Isso posto, Charolles atribui três capacidades básicas ao falante nativo: a capacidade formativa, a transformativa e a qualitativa. Segundo Fávero e Koch apud Bentes, se todo nativo possui essa competência textual, pode-se considerar que a gramática textual tem as seguintes tarefas: verificar com que um texto seja um texto, levantar critérios para a definição de textos e diferenciar as diversas espécies de textos, ou seja, identificar os gêneros textuais.

As gramáticas de texto tiveram o mérito de estabelecer duas noções basilares para a consolidação dos estudos concernentes ao texto/discurso. A primeira é a verificação de que o texto constitui a unidade lingüística mais elevada e se desdobra ou se subdivide em unidades menores, igualmente passíveis de classificação. A segunda noção básica constitui o complemento e a decorrência da primeira noção enunciada: não existe continuidade entre frase e texto, uma vez que se trata de entidades de ordem diferente e a significação do texto não constitui unicamente o somatório das partes que o compõem.
E no terceiro momento, pode-se considerar o texto como diacrônico, uma vez que, percebe-se claramente o texto como processo e não como produto, na medida em que seus conceitos se evoluem, levando-se em consideração o texto e o contexto. Assim, tem-se o conceito de texto segundo Stammerjohann apud Bentes, representando o texto como um produto pronto e acabado, "o termo texto abrange tanto textos orais quanto escritos que tenham como extensão mínima dois signos lingüísticos, um dos quais, porém, pode ser suprido pela situação, no caso de textos de uma só palavra, como "Socorro!", sendo sua extensão máxima indeterminada".
E em uma perspectiva na qual o texto considera as condições de produção ede recepção, é de certo modo abandonara ideia de que o texto é algo pronto e acabado. Nesse sentido, Koch (1997) apudBentes compreende o texto no seu próprio processo de planejamento, verbalização e construção, levando-se em consideração a produção textual como atividade verbal; como atividade verbal consciente e como uma atividade interacional.Posto isso, considera-se o texto um processo de interação entre o escritor/falante e o leitor/ouvinte, em razão de a construção de sentido do texto não está somente dentro do texto, mas, também fora dele. A Lingüística Textual, nesse estágio de sua evolução, assume nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não considera a língua como entidade autônoma ou formal (MARCUSCHI, 1998, apudGalembeck).

Portanto, atualmente o foto da textualidade vendando ênfase aos processos de organização global dos textos, que assumem importância particular as questões de ordem sócio-cognitiva, que envolvem, evidentemente, as da referenciação, inferenciação, acessamento ao conhecimento prévio etc.; o tratamento da oralidade e da relação oralidade/escrita; e o estudo dos gêneros textuais, este agora conduzido sob outras luzes, isto é, a partir da perspectiva bakhtiniana, os gêneros vêem ocupando lugar de destaque nas pesquisas sobre o texto e revelando-se hoje um terreno extremamente promissor (Koch, 2001). Vale salientar aqui, que a questão dos gêneros na perspectiva bakhtiniana não diz respeito apenas aos gêneros textuais, mas também, os gêneros do discurso.
Ainda segundo Koch (2001), a questão referente aos gêneros vai mais além, na medida em que se ver o gênero como suporte das atividades de linguagem, e define-o com base em três dimensões essenciais: 1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis a partir dele; 2) os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes a determinado gênero; 3) as configurações específicas de unidades de linguagem, traços, principalmente, da posição enunciativa do enunciador, bem como dos conjuntos particulares de seqüências textuais e de tipos discursivos que formam sua estrutura.
Em suma, a lingüística Textual tem contribuído significativamente com seu escopo voltado para o texto e a construção de sentido do mesmo, postulando assim, grandes avanços no campo da textualidade. O que era apenas um estudo da frase, passando posteriormente por um estudo da gramática de texto, na tentativa de suprir algumas lacunas não preenchidas pela corrente estruturalista e gerativista; e logo em seguida, chega-se aos conceitos de texto, que por sua vez o define não mais como algo pronto e acabado, mas como um processo em construção e, nesse sentido as contribuições tem sido ainda mais significantes, pois, hoje se tem conceitos mais globais do seja um texto, bem como dos gêneros textuais, gêneros do discurso e tipos de suportes dos gêneros textuais.

REFERENCIAS:

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Vilaça. Linguística textual: intodução. [n.s.]. São Paulo. Cortez, 2002.
http://www.editoracontexto.com.br/files/livro/COESAO_TEXTUAL_INTRODUCAO.pdf. Acesso em 04.03.09.
KOCH, Ingedore Vilaça.lingüística textual: quo vadis? São Paulo, v. 17, n. especial. P. 1-11, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/. Acessoem 04. mar. 2009.
GALEMBECK, Paulo de Tarso. A lingüística textuale seus mais recentes avanços. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm. Acesso em 11.03.2009.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina (Orgs). Introdução a Linguística: domínios e fronteiras. 8ª ed. São Paulo: Cortez, v. 01. 2008.

A LINGÜÍSTICA TEXTUAL E SEUS MAIS RECENTES AVANÇOS

Este texto apresenta os mais recentes avanços da Lingüística Textual, a partir do exame das etapas da evolução dos estudos do texto. Para tanto, apresentam-se os três passos da evolução dos estudos do texto (análises transfrásticas, gramáticas textuais, teorias de texto).
Paulo de Tarso Galembeck (UEL)

O percurso da Lingüística Textual

A adoção do texto e do discurso como unidade básica dos estudos lingüísticos não foi um processo unitário e uniforme, já que houve várias orientações, às quais correspondiam propostas teórico-metodológicas diversas. De forma genérica, essas propostas podem agrupadas em duas tendências: a Análise do Discurso de linha francesa e a Lingüística Textual, oriunda, sobretudo dos países germânicos (Alemanha, Países-Baixos) ou do Reino Unido. Na primeira, as preocupações dominantes são o sujeito da enunciação (um ser situado num dado momento histórico) , os sentidos que ele produz e a ideologia que subjaz à sua mensagem. A Lingüística Textual tinha por objeto específico os processos de construção textual, por meio dos quais os participantes do ato comunicativo criam sentidos e interagem com outros seres humanos.
Na seqüência do texto, são expostos os três passos principais da evolução da Lingüística Textual: as análises transfrásticas; a Gramática de Texto; a Teórica do Texto.
Análises transfrásticasAs análises transfrásticas ainda não consideram o texto como o objeto de análise, pois o percurso ainda é da frase para o texto. Aliás, as análises transfrásticas surgiram a partir da observação de que certos fenômenos não poderiam ser explicados pelas teorias vigentes na época (estruturalismo e gramática gerativa) , por ultrapassarem os limites da frase simples e complexa: a co-referenciação (anáfora); a correlação de tempos verbais (“consecutio temporum”); o uso de conectores interfrasais; o uso de elementos e indefinidos.
Os autores dessa fase valorizaram sobretudo o estudo dos vínculos interfrásticos (elementos coesivos). Nesse sentido, HARWEG (1968) define texto como “uma seqüência pronominal ininterrupta” e menciona como uma de suas (do texto) principais características o fenômeno do múltiplo referenciamento. ISENBERG (1971) conceitua texto como uma “seqüência coerente de enunciados” e enfatiza que o papel dos elementos coesivos no estabelecimento da coerência textual.
O papel atribuído aos elementos coesivos no estabelecimento do sentido global do texto, porém, foi questionado quando se verificou que os citados elementos não são essenciais para a compreensão do sentido global do texto. Vejam-se os exemplos a seguir:
(02)

(2a)
Não vi o acidente: não posso apontar o culpado.
(2b)
Não vi o acidente: naquela hora, tinha acabado de entrar na / loja.
(2c)
Não vi o acidente, contaram-me que ele não respeitou a preferencial.

Mesmo sem a ausência de conectivos; ouvinte/leitor tem a capacidade de construir o significado global da seqüência, porque pode estabelecer as relações lógico-argumentativas entre as partes dos enunciados:
2a: relação conclusiva (portanto).
2b: relação explicativa (pois).
2c: relação adversativa (porém).

Em outros textos, verifica-se que a presença de elementos coesivos não basta para assegurar o sentido global ao texto:

(03)
Ivo viu a uva.
A uva é verde.
A vagem também é verde.
Vovó cozinha a vagem.

A necessidade de considerar o conhecimento intuitivo do falante na construção do sentido global do enunciado e no estabelecimento das relações entre as sentenças, e o fato de vínculos coesivos não assegurarem unidade ao texto conduzem à construção de outra linha de pesquisa. Nessa nova linha, procurou-se considerar o texto não apenas como uma lista de frases, mas um todo, dotado de unidade própria.

Gramáticas de texto

De acordo com MARCUSCHI (1999) , as gramáticas textuais, pela primeira vez, propuseram o texto como o objeto central da Lingüística e, assim, procuraram estabelecer um sistema de regras finito e recorrente, partilhado (internalizado) por todos os usuários de uma língua. Esse sistema de regras habilitaria os usuários a identificar se uma dada seqüência de frases constitui (ou não) um texto e se esse texto é bem formado.
Esse conjunto de regras constitui a competência textual de cada usuário e permite aos usuários diferenciar entre um conjunto aleatório de palavras ou frases, ou um texto dotado de sentido pleno. Outras manifestações dessa competência são a capacidade de resumir ou parafrasear um texto, perceber se ele está completo ou incompleto, produzir outros textos a partir dele, atribuir-lhe um título, diferenciar as partes constitutivas do mesmo e estabelecer as relações entre essas partes.
CHAROLLES (1983) admite que o falante possui três competências básicas:
Competência formativa: permite ao usuário produzir e compreender um número infinito de texto e avaliar, de modo convergente, a boa ou má formação de um texto.
Competência transformativa: refere-se à capacidade de resumir um texto, parafraseá-lo, reformulá-lo, ou atribuir-lhe um título, assim como de avaliar a adequação do resultado dessas atividades.
Competência qualificativa: concerne à capacidade de o usuário identificar o tipo ou gênero de um dado tipo, bem como à possibilidade de produzir um texto de um tipo particular.
As gramáticas de texto tiveram o mérito de estabelecer duas noções basilares para a consolidação dos estudos concernentes ao texto/discurso. A primeira é a verificação de que o texto constitui a unidade lingüística mais elevada e se desdobra ou se subdivide em unidades menores, igualmente passíveis de classificação. As unidades menores (inclusive os elementos léxicos e gramaticais) devem sempre ser considerados a partir do respectivo papel na estruturação da unidade textual. A segunda noção básica constitui o complemento e a decorrência da primeira noção enunciada: não existe continuidade entre frase e texto, uma vez que se trata de entidades de ordem diferente e a significação do texto não constitui unicamente o somatório das partes que o compõem.

Apesar dos avanços apontados, cabe reconhecer alguns problemas na formulação das Gramáticas Textuais. O primeiro é a conceituação do texto como uma unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a partir de um sistema finito de regras, internalizado por todos os usuários da língua. Esse sistema finito de regras constituiria a gramática textual de uma língua, semelhante, em sua formulação, à gramática gerativa da sentença, de Chomsky. Ora, fica difícil propor um percurso gerativo para o texto, pelo fato de ele não constituir uma unidade estrutural, originária de uma estrutura de base e realizada por meio de transformações sucessivas. Outro problema das gramáticas de texto é a separação entre as noções de texto (unidade estrutural, gerada a partir da competência de um usuário idealizado e descontextualizado) e discurso (unidade de uso). Essa separação é injustificada, pois o texto só pode ser compreendido a partir do uso em uma situação real de interação. Foi a partir das considerações anteriores que os estudiosos iniciaram a elaboração de uma teoria de texto, que discutisse a constituição, o funcionamento, a produção dos textos em uso numa situação real de interação verbal.

Lingüística textual

Como lembra MARCUSCHI (1998) , no final da década de setenta, o enfoque deixa de ser a competência textual dos falantes e, assim, passa-se a considerar a noção de textualidade, assim estabelecida por BEAUGRANDE e DRESSLER (1981): “modo múltiplo de conexão ativado sempre que ocorrem eventos comunicativos”. Outras noções relevantes da Lingüística Textual são o contexto (genericamente, o conjunto de condições externas à língua, e necessários para a produção, recepção e interpretação de texto) e interação (pois o sentido não está no texto, mas surge na interação entre o escritor / falante e o leitor/ouvinte).
Essa nova etapa no desenvolvimento da Lingüística de Texto decorre de uma nova concepção de língua (não mais um sistema virtual autônomo, um conjunto de possibilidades, mas um sistema real, uso em determinados contextos comunicativos) e um novo conceito de texto (não mais encarado como um produto pronto e acabado, mas um processo uma unidade em construção). Com isso, fixou-se como objetivo a ser alcançado a análise e explicação da unidade texto em funcionamento e não a depreensão das regras subjacentes a um sistema formal abstrato. A Lingüística Textual, nesse estágio de sua evolução, assume nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não considera a língua como entidade autônoma ou formal (MARCUSCHI, 1998).

O texto como processo

A Lingüística Textual parte do pressuposto de que todo fazer (ação) é necessariamente acompanhado de processos de ordem cognitivo, de modo que o agente dispõe de modelos e tipos de operações mentais. No caso do texto, consideram-se os processos mentais de que resulta o texto, numa abordagem procedimental. De acordo com KOCH (2004) , nessa abordagem “os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, têm conhecimentos na memória que necessitam ser ativados para que a atividade seja coroada de sucesso”. Essas atividades geram expectativas, de que resulta um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.
A partir da noção de que o texto constitui um processo, HEINEMANN e VIEHWEGER (1991) definem quatro grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:
Conhecimento lingüístico: corresponde ao conhecimento do léxico e da gramática, responsável pela escolha dos termos e a organização do material lingüístico na superfície textual, inclusive dos elementos coesivos.
Conhecimento enciclopédico ou de mundo: compreende as informações armazenadas na memória de cada indivíduo. O conhecimento do mundo compreende o conhecimento declarativo, manifestado por enunciações acerca dos fatos do mundo (“O Paraná divide-se em trezentos e noventa e nove municípios”; “Santos é o maior porto da América Latina”) e o conhecimento episódico e intuitivo, adquirido através da experiência (“Não dá para encostar o dedo no ferro em brasa.”).
Ambas as formas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos. Isso significa que os conceitos são organizados em blocos e formam uma rede de relações, de modo que um dado conceito sempre evoca uma série de entidades. É o caso de futebol, ao qual se associam: clubes, jogadores, uniforme, chuteira, bola, apito, arbitro... Aliás, graças a essa estruturação, o conhecimento enciclopédico transforma-se em conhecimento procedimental, que fornece instruções para agir em situações particulares e agir em situações específicas.
Conhecimento interacional: relaciona-se com a dimensão interpessoal da linguagem, ou seja, com a realização de certas ações por meio da linguagem. Divide-se em:
conhecimento ilocucional: referentes aos meios diretos e indiretos utilizados para atingir um dado objetivo;
conhecimento comunicacional: ligado ao anterior, relaciona-se com os meios adequados para atingir os objetivos desejados;
conhecimento metacomunicativo: refere-se aos meios empregados para prevenir e evitar distúrbios na comunicação (procedimentos de atenuação, paráfrases, parênteses de esclarecimento, entre outros).
Conhecimento acerca de superestruturas ou modelos textuais globais: permite aos usuários reconhecer um texto como pertencente a determinado gênero ou tipo.
Contexto e interação

O processamento do texto depende não só das características internas do texto, como do conhecimento dos usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na produção/recepção do texto. Todo e qualquer processo de produção de textos caracteriza-se como um processo ativo e contínuo do sentido, e liga-se a toda uma rede de unidades e elementos suplementares, ativados necessariamente em relação a um dado contexto sócio-cultural. Dessa forma, pode-se admitir que a construção do sentido só ocorre num dado contexto.
Aliás, segundo SPERBER e WILSON (1986:109 e ss.) o contexto cria efeitos que permitem a interação entre informações velhas e novas, de modo que entre ambas se cria uma implicação. Essa implicação só é possível porque existe uma continuidade entre texto e contexto e, além do mais, a cognição é um fenômeno situado, que acontece igualmente dentro da mente e fora dela.
O sentido de um texto e a rede conceitual que a ele subjaz emergem em diversas atividades nas quais os indivíduos se engajam. Essas atividades são sempre situadas e as operações de construção do sentido resultam de várias ações praticadas pelos indivíduos, e não ocorrem apenas na cabeça deles. Essas ações sempre envolvem mais de um indivíduo, pois são ações conjuntas e coordenadas: o escritor / falante tem consciência de que se dirige a alguém, num contexto determinado, assim como o ouvinte/leitor só pode compreender o texto se o inserir num dado contexto. A produção e a recepção de textos são, pois, atividades situadas e o sentido flui do próprio contexto.
Essa nova perspectiva deriva do caráter diálogo da linguagem: o ser humano só se constrói como ator e agente e só define sua identidade em face do outro. O ser humano só o é em face do outro e só define como tal numa relação dinâmica com a alteridade (BAKHTIN, 1992). A compreensão da mensagem é, desse modo, uma atividade interativa e contextualizada, pois requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e habilidades e a inserção desses saberes e habilidades no interior de um evento comunicativo.
O sentido de um texto é construído (ou reconstruído) na interação texto-sujeitos (ou texto-co-enunciadores) e não como algo prévio a essa interação. A coerência, por sua vez, deixa de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o leitor/ouvinte, a partir dos elementos presentes na superfície textual, interage com o texto e o reconstrói como uma configuração veiculadora de sentidos.
Cabe assinalar, em forma de conclusão, que essa nova visão acerca de texto, contexto e interação resulta, inicialmente, de uma contribuição relevante, proporcionada pelos estudiosos das ciências cognitivas: a ausência de barreiras entre exterioridade e interioridade, entre fenômenos mentais e fenômenos físicos e sociais. De acordo com essa nova perspectiva, há uma continuidade entre cognição e cultura, pois esta é apreendida socialmente, mas armazenada individualmente.
Ressalta-se, também, a evolução da noção de contexto. Para a análise transfrástica o contexto era apenas o co-texto (segmentos textuais precedentes e subseqüentes, a um dado enunciado). Já para a Gramática de Texto contexto é a situação de enunciação, conceito que foi ampliado para abranger, na Lingüística Textual, o entorno sócio-cultural e histórico comum aos membros de uma sociedade e armazenado individualmente em forma de modelos cognitivos. Atualmente, o contexto é representado pelo espaço comum que os sujeitos constroem na própria interação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm
BEAUGRANDE, Robert-Alain de e DRESSLER, Wolfgang U. Introduction to Text Linguistics. London: Longman, 1981.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CHAROLLES, Michel. Coherence as a principle of Interpretability of Discourse. Text, 3 (1) , 1983, p. 71-98.
HEINEMANN, Wolfgang e VIEHWEGER, D. Textlinguistik: eine Einführung. Tübingen: Niemeyer, 1991.
HARWEG, Roland. Pronomina und Textkonstitution. München: Fink, 1968.
ISENBERG, Horst. Überlergungen zur Texttheorie. In: Jens 1 hwe (ed.). Literaturwissenschaft und Limgustik. Frankfürt: Athenäum, 1971, p. 150-173.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à lingüística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Aspectos lingüísticos, sociais e cognitivos da produção de sentido. 1998, (mimeo).SPERBER, Dan e WILSON, Deidre. Relevance. Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.